LA CRUZADA DE NEVILLE

LA CRUZADA DE NEVILLE

miércoles, 26 de octubre de 2011

A LÍNGUA CÉLTICA FALADA NA GALIZA NOM SE PERDEU NA SUA TOTALIDADE



En la foto de arriba Heitor Rodal y Marcella Spinolla con mi buen amigo André Pena Granha (doctor en arqueología e historia antigua por la Universidad de Santiago de Compostela) en el congreso de estudios celtas de Maigh Nuad - EIRE/IRLANDA

HEITOR RODAL: LA LENGUA CÉLTICA HABLADA EN GALICIA NO SE PERDIÓ EN SU TOTALIDAD


reavivou o debate sobre a celticidade da Galiza. Sobre esta, e outras questons relativas ao mundo celta, falamos com Héitor Rodal, presidente do Instituto Galego de Estudos Celtas e conhecido reintegracionista.





Contade-nos um pouco como nasce o Instituto Galego de Estudos Célticos e quais som os seus principais objetivos.

O Instituto Galego de Estudos Célticos, IGEC, nasce depois de diversos intentos realizados anteriormente e que nom calharam por diversos motivos. O arqueólogo e historiador André Pena Granha, após ter organizado os dous primeiros Congressos Internacionais sobre temática céltica em Ferrol, procurou organizar uma Instituiçom científica que respondesse ao renovado interesse pola celticidade galega que se despertou a partir da década de setenta do século passado entre os estudosos e nos âmbitos académicos europeus tras o achado dos bronzes de Botorrita na Península Ibérica. Finalmente, em 2009 reunimo-nos um grupo de pessoas arredor do projeto que fomos capazes de tirar para a frente o Instituto.

Os principais objetivos do Instituto som o estudo e a pesquisa, baseando-nos em dados científicos verificáveis e contrastados, da herdança céltica na Galiza e o conhecimento e difusom pública dela, como também o fortalecimento dos vínculos em âmbitos como o académico, cultural e económico e o intercâmbio com os diferentes países célticos e atlânticos.

Em agosto participastes em Maidgh Nuad, na Universidade Nacional da Irlanda, no XIV International Congress of Celtic Studies. Que tal foi a acolhida da questom galega?

Foi recebida e escuitada com grande atençom e interesse. Contudo, a maior parte das pessoas que nos escuitavam, desconheciam o legado e o imenso contributo que a Galiza pode fazer aos estudos célticos. A Galiza tem a chave para fazer virar 180º os estudos célticos e sabemos, nom obstante, que existem amiúde certas inercias e resistências académicas a questionar aquilo que foi estabelecido e que por vezes essas resistências som difíceis de quebrar.

Por outra parte, o certo é que sem a assistência ao Congresso da delegaçom do IGEC, que apresentou uma sessom monográfica sobre a celticidade galaica, a Galiza tivesse passado completamente desapercebida e esquecida nesse importantíssimo encontro, um facto certamente ruinoso para a imagem e a projeçom do país.

Durante o III Congresso Internacional sobre a Cultura Celta em Narom, no abril passado, houvo umha pequena polémica na imprensa com o professor Ángel Carracedo e a teoria da continuidade. A que conclussons se chegárom depois na conferência?

Bom, mais do que uma polémica a respeito da teoria da continuidade que, dum ponto de vista dos estudos genéticos e da dinâmica de populações o professor Carracedo nom desmentiu, mas antes confirmou, a polémica produziu-se por ter-se-lhe adjudicado ao professor Carracedo umas declarações que excedem o seu estrito campo de estudo.

Com efeito, a partir dos estudos genéticos Ángel Carracedo confirmou que a Península Ibérica e a zona Galaica em particular servirom de refúgio glacial para as populações europeias da altura. Com a posterior retirada do gelo e da neve, essas populações foram voltando e colonizando latitudes mais setentrionais. Ele, contudo, através do exclusivo estudo dos genes nom pode estabelecer que cultura ou que língua falavam aquelas pessoas que para lá marcharam, mas para estabelecer isso havia no Congresso reconhecidos especialistas doutras disciplinas como a arqueologia, linguística, etc ... como Wenceslas Kruta, Juan José Moralejo, Carlos Bua, etc ...que confirmaram sem hesitações a celticidade linguística e cultural daquelas populações.

Logo, a liçom mais importante é que para chegar a conclusões válidas e fiáveis, os estudos célticos nom podem ser abordados exclusivamente a partir duma única disciplina isolada, mas dum ponto de vista multidisciplinar. Estratégias monodisciplinares de análise estarám sempre condenadas ao fracasso, quando nom à distorçom.

E contudo, essa polémica engrandecida artificialmente até nos veio bem para que alguns meios se fizessem eco do Congresso, mesmo que o fizessem por vezes com evidente vontade denigratória, dado que doutro jeito nom teriam falado nunca dele.

Do vosso ponto de vista, quais som os principais fundamentos da "celticidade" da Galiza a dia de hoje? Está a haver importantes descobrimentos científicos neste campo, nom é?

Talvez diga uma cousa chocante, mas a língua céltica falada na Galiza nom se perdeu na sua totalidade. Permanece viva na toponímia e empregamo-la quase a cotio, cada vez que nomeamos ou falamos de inúmeros nomes de lugar do nosso país. Era bom reparar em que, por exemplo, cada vez que utilizamos um topónimo acabado em -bre / -be estamos a empregar uma palavra céltica cujo significado pode ser conhecido. A simples curiosidade devia levar para conhecer isso. E exemplos análogos a estes há muitíssimos. Recuperar isso é recuperar também parte da nossa História.

O curioso é que esses topónimos e etnónimos também foram levados para outros lugares polas populações deslocadas desde aqui: assim o nosso Tambre, antigo Tamara, tem os cognados Tamer e Tamisa na Grã Bretanha ou topamos também tribos Brigantes na Grã Bretanha e na Irlanda ... e, seguindo o que nos explicam os estudos paleoclimáticos, é claro que esses nomes forom levados da Península para lá com a recolonizaçom humana pós-glacial daquelas terras. Como ocorreu noutros momentos da história e noutras latitudes, aqueles emigrantes levarom cultura, costumes, organizaçom, língua, ... e também nomes.

Outros elementos som os restos e vestígios arqueológicos, etnográficos, e nom só os materiais, mas também imateriais como os costumes e usos institucionais que podem ser seguidos ao longo da história e chegaram quase até os nossos dias.
Para além disso, a espiritualidade tradicional galega está claramente inserida na da área cultural celto-atlântica. Com elementos do folclore como lendas, festas, etc... que formam grande parte do que podemos definir como cultura galega acontece outro tanto.

Contodo, pola primeira vez na historiografia galega, a tese celtista está a ter teóricos rivais, que nom som espanholistas. Em que estado se acha o debate?

Por paradoxal que possa parecer o mais rechamante é que se foge do debate aberto por parte desses setores que questionam a tese céltica. Contudo, isto nom é nada novo. O silenciamento é um dos mecanismos mais utilizados na Galiza para nom ter que abordar abertamente temas inadequados ou incómodos por parte dalguns setores académicos ou sociais. Isto pode ter a ver com a progressiva desmontagem dos argumentos esgrimidos polos que negam sistematicamente a celticidade galega. O certo é que a pesquisa e os sucessivos descobrimentos achegam cada vez mais elementos de valor à tese céltica.

Sobre a criaçom do mito anticeltista era bom pesquisar mais nela. Hoje sabemos com certeza que depois da Guerra Civil houve uma substituiçom em postos chaves das universidades para desmanchar tudo quanto se tinha avançado e pesquisado neste âmbito até essa época e com encargo expresso aos professores enviados de desmontar a tese celtista mediante a negaçom, a ridiculizaçom, etc ... . Depois, 40 anos de doutrinamento académico, cultural e político fizeram o resto. E mesmo assim o assunto continua vivo e abrolha periodicamente.

A assunçom do mito anticeltista por parte de setores aparentemente nacionalistas é, se quadra, mais absurda: ao se descobrirem os Bronzes de Botorrita na área celtibérica, alguém decidiu que se na Meseta também havia celtas, entom aqui devia haver outra cousa. Podíamos chamá-la autodefiniçom à inversa. E, procurando um diferencialismo artificial que nada achega, derom em inventar uma nova cultura baseando-se só em vestígios materiais e formas de povoamento, que por outra parte som coincidentes com os de Irlanda, Grã Bretanha, Bretanha, ... nomeando-a de "castreja".

Para tentarem manter o construto quando já ruía concidirom posteriormente ambas tendências do anticeltismo em conceder pré-eminência à celticidade da Celtiberia sobre a galaica, contradizendo e dando-lhe a volta ao que indicam todos os marcadores nos diversos campos de estudo como a arqueologia, linguística, dinâmica de populações, etc..

Obrigadas por todo. Por último, podedes engadir qualquer cousa de relevância que esquecêssemos.

Há cousas maravilhosas, como que a Galiza atesoura a coleçom de torques mais extensa de toda a Europa.
Ou as 'Sheela-na-Gig' atlânticas que sempre se disse serem de origem medieval e no entanto temos na Galiza essa figura feminina representada em santuários da Idade de Ferro.

Existem ainda na Irlanda topónimos como Dun-na-Gael, anglizado Donnegal, que significa literalmente "Castro dos Gaels". Sabemos que os gregos chamaram "kallaikós" aos habitantes da Gallaecia pré-romana, que é donde deriva o nosso etnónimo nacional atual, que o sufixo -aiko é um sufixo indo-europeu de genitivo e que o "g" e o "k" da raiz "Kall" som foneticamente intercambiáveis. E ainda, que as línguas célticas autóctones da Irlanda e da Escócia nom som chamadas nas respetivas línguas como "irlandês" ou "escocês", como pareceria lógico, mas "gaeilge", "gàidhlig", etc .. afinal "gaélico", tam semelhante à palavra "galaico". Com todos esses materiais, é difícil nom achar conexões evidentes e tirar conclusões.

Por último, assinalar que as universidades britânicas e anglossaxãs já estám a trabalhar nesta direçom, como por exemplo através do projeto ABrAZo (Ancient Britain and the Atlantic Zone) em que se ocupam de demonstrar ter sido o "tartéssico" uma língua da família céltica, algo que já demonstrara o professor da Sorbona Eulógio Losada Badia há mais de trinta anos, mas que daquela ninguém quis acreditar ou prestar atençom. O triste será quando venham a dizer-nos o que já sabemos nós hoje, entom todo o mundo concordará.



Fotografia: de esquerda à direita: Heitor Rodal, Marcela Spinolla e André Pena Granha no XIV International Congress of Celtic Studies em Maigh Nuad (Irlanda).

No hay comentarios:

Publicar un comentario